terça-feira, junho 03, 2008

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A porta abriu-se de repente. A respiração parou. Os sons estavam cada vez mais longe. As pessoas desviavam-se para conseguir sair e ela continuava aí parada, sem respirar, sem pestanejar, sem pensar.
Pouco a pouco, muito lentamente, as pernas moveram-se, uns movimentos timidos coordenados pela razão ou pela vontade, não se sabe. O caminho era curto, mas a vontade de chegar ao destino não existia, existia tão só uma vontade de acordar de repente.
Queria sentir a respiração falhar-lhe, a voz faltar-lhe, as pernas baterem contra o colchão. Queria acordar e dar-se conta que era um sonho. Mas não. Não era um sonho. E não ía acordar porque para o fazer é preciso dormir e isso era precisamente a única coisa que não conseguia. Dormir, essa coisa que fazes quando te deitas, fechas os olhos e o teu subconsciente te leva para outra dimensão. É, essa coisa que as pessoas normais fazem mas que ela não conseguia.
Ai, nesse movimento lento, a que alguns chamam caminhar, ela lembrou-se de tudo, dos abraços fortes e interminaveis, das piadas sem graça, dos silencios tão duros, das palmas que se ouviam em momentos "violentos", dos sorrisos mais sinceros. E é aí, nesse movimento lento, que a razão a chama e ela acorda. Ele está aí, diante de si, não como antes é certo, mas que importa isso. Tem o sorriso de sempre, aperta a mão com força, bate na perna ainda com mais força e diz disparates.
Senta-se a seu lado, sorri, diz disparates e disfarça assim o nervosismo, o medo, a vontade de o abraçar e não largar mais. Ficam os dois aí, como tontos, como sempre. Dizem disparates misturados com coisas sérias. Batem um num outro (com intensidades diferentes). E respiram fundo quando não sabem o que dizer ou ouvir. Sorriem.
O coração continua apertadinho, mas as palavras saem naturalmente. "Até amanhã". Com um sorriso na cara, como se nada.