quarta-feira, janeiro 14, 2009

O Quarto poder.

O quarto poder é um quarto. Com vista sobre a cidade que já não o é; sobre as ruas que já o foram; sobre as casas que deixaram de o ser.

O quarto poder é um pai; e um filho tornado órfão por uma bala certeira; errada no alvo, errada na hora, errada no tempo que faz do lugar a morada última de um quotidiano que se extingue.

O quarto poder é um fogo; ingrato nos modos, ousado na fuga, intenso na cor, injusto nas vítimas.

O quarto poder é um mar; um oceano de raiva, um elemento à deriva, uma ausência de razão, um lamento inconsolável, um ímpeto de sobrevivência.

O quarto poder é um sopro; de espada em forma de pena, de penas em forma de espadas, de imperfeitos pretéritos, de distorcidos desejos, de ódios e iras e túmulos, e vidas e mortes e destinos, e estilhaços e condições desumanas.

O quarto poder é um berço; a inocência do dia primeiro, segundo a segundo; o choro e o riso, o siso e o norte, o sol e o sul, o leste e o oeste, os cardeais preciosos que guiam, precisos, o começo da nova vida.

O quarto poder é um voto; um desejo dobrado em quatro, a esperança feita num oito. Promessas, palavras vãs, ínvios caminhos, passos perdidos, leis e normas e regras e o melhor dos países e os oásis e os pântanos, e a pose a pensar na posse, no quero, no tudo, no mando.

O quarto poder é um piano; as teclas o prolongamento do tacto; a pauta a serenidade literária, a mão, silhueta temerária, e a mente, suavemente brilhante, tem na partitura o efeito, e na causa cheia o aplauso.

O quarto poder é um golo; um passe em profundidade; um drible, um truque, um remate, uma falta como se pecado fosse, um alento, um país, uma forma de vitória, a outra forma da derrota.

O quarto poder é uma luta; um jeito de desespero; a tábua do náufrago, os argumentos do facto, o mais dos que têm menos, o menos quando são demais.

O quarto poder é um acto; as horas que dele decorrem, as vidas que nele se perdem, as incertezas do dia e a inevitabilidade da noite.

O quarto poder é um arbítrio; um acaso disfarçado, um fogo-fátuo do nada, de tudo a fatalidade, de todos a provação, de muitos a privação, de quem a responsabilidade?

O quarto poder é pergunta; e resposta e mais pergunta, e tese e antítese e síntese; e os dias que hão-de vir, a nobreza do dever, a missão de não esconder, de mostrar, de saber, de fazer saber, de saber fazer, olhar e explicar.

O quarto poder é um quarto. Um quarto revisitado, um pai que é baleado, um fogo inacabado, um mar assim tresloucado, um sopro sentenciado, um berço de novo ocupado, um voto mais uma vez escrutinado, um piano a ser tocado, um golo que é celebrado, uma luta que dá brado, um acto premeditado, um arbítrio incontrolado, uma pergunta no estrado.



Texto da publicidade da sic noticias, segundo o que pude apurar escrito pelo jornalista Reinaldo Serrano.
Vi hoje e adorei.
[termina com: "O quarto poder é um nome: SIC. O orgulho de poder dizer."]

3 comentários:

Jay Dee disse...

Amei mesmo. Genial. O quarto poder é isso tudo e muito mais.

Isabel José António disse...

Cara Amiga Cláudia C,

Vim "aportar" aqui a este seu blogue enquanto navegava entre outros blogues.

Venho dar-lhe os parabéns por este texto que, de facto, é declamado, em voz off, enquanto passam imagens diversas, creio que na SIC NOtícias.

Ele (quarto poder) reporta-se a algo que parece nos conduz aleatoriamente pela vida. Mas esta aleatoridade não é assim tão aleatória.

Existe algo (vamos chamar-lhe oculto) que tudo conduz, que tudo faz acontecer, que canaliza diversos tipos de energias para que se produzam diversos acontecimentos. Uns camam-lhe "sorte" outros "coincidências". Mas num mundo todo feito de energias, talvez que lhe pudessemos chamar "UM INCONCIENTE COLECTIVO".

Nesse espaço energético, comparado com um NADA que TUDO contém e está contido no TODO, tudo está pleno de oportunidades prontas a serem despoletadas pela nossa entrega e pelo sentido da energia a que possamos estar a vibrar.

Veja estas duas citações:

"Não existe matéria como tal! Toda a matéria se origina e existe em virtude duma força que faz as partículas dum átomo vibrarem e que mantêm esse minúsculo sistema solar unido. Devemos assumir, por trás dessa força a existência duma Mente Conscientee Inteligente. Essa Mente é a matriz de toda a matéria." Max Planck (Físico já vencedor dum Prémio Nobel)

Uma afirmação minha: A determinados níveis, o nosso corpo é completamente caótico. Numa inspiração, milhões de átomos de oxigénio entram na corrente sanguínea; batalhões de proteínas e enzimas inundam cada célula e os disparos dos seus neurónios são uma tempestade sem fim. No entanto, este caos, é a base que produz os seus pensamentos coerentes e as nossas células são obras primas de boa organização. A Vida flui sempre do caos para a ordem.

Porque acha que é assim?

Muitos parabéns pelo blog.

Se quiser passar por alguma das nossas casas, sinta-se convidada.

Um abraço

José António

O primeiro poder disse...

Olá! Devo dizer que vocês não passam de um bando de intelectuais de meia tigela... Esta porcaria de "poema", se assim se pode chamar, é uma boa m....

Está tudo doido?!!

Esta é a maior treta que eu já ouvi na televisão. Pura e simplesmente eles não dizem nada! Apenas dão uma entoação que para os menos atentos podem fazer crer que estão a dizer alguma coisa. Por ser extenso e irritante, acredito que esta publicidade só vai afastar os verdadeiros intelectuais deste canal que aliás, cada vez mais, parece estarão mesmo nível das pessoas que aqui fizeram estes comentários ainda mais tristes.
Cumprimentos